quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Javalis estão a "atropelas" automóveis no Alentejo

O perigo espreita com o cair da noite nas estradas do Alentejo. Javalis, entre os 80 e os cem quilos, estão a atravessar-se no caminho dos automobilistas. No concelho de Montemor-o-Novo os embates violentos já mandaram carros para a sucata e provocaram despistes. Há registo de dois feridos graves.

Em Abril, Vicente Bicho, dono de uma empresa de reboques em Montemor, foi chamado sete vezes a sinistros provocados por javalis. E desde o princípio do ano? "Já lhe perdi a conta", responde. Além da chapa amolgada, são muitas as viaturas que ficam sem andar, mas só os proprietários com seguro de danos próprios (cobertura contra todos os riscos) têm direito a indemnização. Os restantes ficam com o prejuízo, porque, como o animal é selvagem, não há responsáveis pelos estragos, sendo considerado como uma "causa natural", segundo explicou uma fonte da GNR, admitindo que, por isso, grande percentagem dos acidentes nem sejam comunicados às autoridades.

O proprietário da empresa de reboques aponta quatro locais perigosos: São Cristóvão, as estradas entre Ciborro e Brotas, Lavre e Ciborro e entre Montemor e Arraiolos, em plena EN4 (Lisboa-Espanha). António Bicho diz que vai frequentemente a estes locais rebocar viaturas "completamente destroçadas." Na maioria dos casos os javalis sobrevivem aos embates, colocando-se em fuga.

"Já têm havido despistes e gente ferida. Nos últimos tempos houve dois feridos graves", diz. A versão é confirmada pelos bombeiros de Montemor-o-Novo. O seu comandante, João Coelho, diz mesmo que a situação "é preocupante e cada vez mais ameaçadora".

Este é um fenómeno recente. O veterinário Luís Miguel Lopes explica que o facto de praticamente todo o Alentejo estar coberto por reservas de caça, limitando o abate de javalis "a algumas montarias, que são caras e não dão para todos", deixa uma grande margem à multiplicação daquela espécie suína. "Hoje há o triplo de javalis, comparando com há dez anos", assegura. Jacinto Amaro, presidente da Federação Nacional de Caçadores, garante que os javalis estão a fugir para as zonas de regadio, depois dos fogos e das secas que marcaram os últimos anos. "Estão a procurar os vales do Tejo, Guadiana e Sorraia, onde hoje se fazem as melhores montarias, quando dantes era na zona da raia, em Mértola. O problema é que aqui há mais estradas", refere o dirigente, justificando tratar-se de uma espécie que "percorre dezenas" de quilómetros à procura de comida e água.

"Eles passam por todo o lado, comem tudo. É um animal como não há. O seu único predador é o homem, mas não estamos a dar conta do recado." Quem o diz é António Faria, presidente da Junta de Freguesia de São Cristóvão, um dos locais onde todas as cautelas para evitar acidentes são poucas. Por isso, o autarca reclama do Estado autorização para "um maior controlo cinegético, para evitar situações mais graves", admitindo que as montarias que resultam no abate de 20 a 40 javalis "são insuficientes para resolver o problema."|

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